Oito dias na Bielorrússia <font color=0094E0>(1)</font>
Foi a curiosidade que me levou à Bielorrússia nos primeiros dias de Agosto. Queria ver com os meus próprios olhos a «última ditadura da Europa, herdeira do regime comunista», que tanto deu que falar nos últimos tempos. Aproveitando quinze dias de férias e uma companhia empenhada a percorrer os mesmos trilhos incertos, fiz-me ao caminho. O visto foi conseguido sem dificuldades nem grandes perguntas na embaixada bielorrussa na Hungria.
Nunca tive dúvidas de que numa simples viagem feita de comboio e mochila às costas – ainda para mais num país em que a barreira linguística se apresentava praticamente intransponível –, seria difícil traçar análises aprofundadas da realidade social e política da ex-república soviética. Pese embora algumas leituras feitas antes da partida e um já antigo interesse pela situação nos antigos países socialistas, limitei-me a observar, com olhar atento e crítico. É precisamente sobre estas observações que deixarei aqui algumas notas.
De uma certa forma, esperava outra coisa da Bielorrússia. Certamente que por algum preconceito, enraizado com a «ajudinha» preciosa da propaganda ocidental a que – percebi como nunca antes – não estou imune, esperava um país mais parado no tempo, algures no início dos anos 90. Esperava encontrar, como encontrei, um país resistente aos ventos neoliberais que empurraram a Rússia e a Ucrânia para uma miséria mafiosa. Mas um país que pagasse essa resistência com a estagnação da sua economia e com a degradação das condições de vida da população. Nada mais falso.
Impressões gerais
Minsk, a capital, pulsa de vida. Por toda cidade, dos prédios de habitação às zonas comerciais e aos grandes edifícios públicos, sucedem-se as obras de requalificação. Novos espaços são criados na periferia, como é o caso da Biblioteca Nacional, inaugurada recentemente. Trata-se de um grande e moderno edifício em vidro situado num dos muitos parques da cidade. Estes, impecavelmente cuidados, ocupam grande parte da área da capital. E nem os subúrbios são esquecidos quando o assunto é espaços verdes.
Nada disto é feito para turista ver. O turismo é, aliás, uma actividade pouco explorada: quase ninguém fala inglês ou francês e as ementas dos restaurantes surgem quase exclusivamente em cirílico. O turismo existente é nacional e, na melhor das hipóteses, russo. Parques, cafés, restaurantes, locais de diversão nocturna e, em geral, tudo aquilo que há em Minsk é para ser usufruído em primeiro lugar pelos bielorrussos.
Ao contrário do turismo, a indústria é pujante. E isso vê-se. Os autocarros que circulam na cidade são novos e fabricados na MAS, uma empresa estatal que produz igualmente grandes camiões, que marcavam presença nas muitas obras públicas em curso por todo o país.
A produção nacional é exaltada. Nos noticiários televisivos, percebemos que o assunto forte era a produção de cereal e que o plano havia sido superado. Numa edição inglesa de um jornal bielorruso, o Minsk Times, a que tivemos acesso, destacava-se o significativo aumento das exportações e da riqueza nacional.
Num pequeno livro que nos foi entregue na embaixada na Hungria, explica-se o modelo de desenvolvimento do país. O sector privado, afirma-se, deve ser desenvolvido juntamente com o sector público «sem nunca prejudicar os interesses nacionais do povo bielorrusso», principal objecto do crescimento económico.
Derrubar preconceitos
O que mais surpreende são as pessoas. A sua simpatia é comovente e quase constrangedora. Pedir uma indicação na rua, com recurso à arte tão portuguesa do «desenrasca» – com recurso a gestos ou a desenhos –, termina muitas vezes da mesma maneira: pegarem-nos pelo braço e levarem-nos lá, mesmo se esse «lá» for precisamente no sentido contrário do caminho pelo qual seguiam.
O nível de vida é razoável. As diferenças sociais existem, mas são muito inferiores às verificadas nos países vizinhos. Ou mesmo em Portugal. A exclusão, tão chocante numa cidade como Budapeste – onde o metropolitano serve de tecto a centenas de pessoas excluídas pelo capitalismo triunfante – não é visível e não há gente a pedir. Os bens de consumo, como os automóveis utilitários, os telemóveis de última geração ou o vestuário da moda, são generalizados, sobretudo em Minsk.
Longe de constituírem uma análise sobre a realidade bielorrussa, estas linhas são apenas anotações de viagem. Mas espero que sirvam para derrubar preconceitos acerca de um país que, não querendo entrar para a UE e para a NATO – e talvez por isso – mantém um considerável nível de satisfação das necessidades do povo. Com a Rússia e a Ucrânia mesmo ali ao lado…
Nunca tive dúvidas de que numa simples viagem feita de comboio e mochila às costas – ainda para mais num país em que a barreira linguística se apresentava praticamente intransponível –, seria difícil traçar análises aprofundadas da realidade social e política da ex-república soviética. Pese embora algumas leituras feitas antes da partida e um já antigo interesse pela situação nos antigos países socialistas, limitei-me a observar, com olhar atento e crítico. É precisamente sobre estas observações que deixarei aqui algumas notas.
De uma certa forma, esperava outra coisa da Bielorrússia. Certamente que por algum preconceito, enraizado com a «ajudinha» preciosa da propaganda ocidental a que – percebi como nunca antes – não estou imune, esperava um país mais parado no tempo, algures no início dos anos 90. Esperava encontrar, como encontrei, um país resistente aos ventos neoliberais que empurraram a Rússia e a Ucrânia para uma miséria mafiosa. Mas um país que pagasse essa resistência com a estagnação da sua economia e com a degradação das condições de vida da população. Nada mais falso.
Impressões gerais
Minsk, a capital, pulsa de vida. Por toda cidade, dos prédios de habitação às zonas comerciais e aos grandes edifícios públicos, sucedem-se as obras de requalificação. Novos espaços são criados na periferia, como é o caso da Biblioteca Nacional, inaugurada recentemente. Trata-se de um grande e moderno edifício em vidro situado num dos muitos parques da cidade. Estes, impecavelmente cuidados, ocupam grande parte da área da capital. E nem os subúrbios são esquecidos quando o assunto é espaços verdes.
Nada disto é feito para turista ver. O turismo é, aliás, uma actividade pouco explorada: quase ninguém fala inglês ou francês e as ementas dos restaurantes surgem quase exclusivamente em cirílico. O turismo existente é nacional e, na melhor das hipóteses, russo. Parques, cafés, restaurantes, locais de diversão nocturna e, em geral, tudo aquilo que há em Minsk é para ser usufruído em primeiro lugar pelos bielorrussos.
Ao contrário do turismo, a indústria é pujante. E isso vê-se. Os autocarros que circulam na cidade são novos e fabricados na MAS, uma empresa estatal que produz igualmente grandes camiões, que marcavam presença nas muitas obras públicas em curso por todo o país.
A produção nacional é exaltada. Nos noticiários televisivos, percebemos que o assunto forte era a produção de cereal e que o plano havia sido superado. Numa edição inglesa de um jornal bielorruso, o Minsk Times, a que tivemos acesso, destacava-se o significativo aumento das exportações e da riqueza nacional.
Num pequeno livro que nos foi entregue na embaixada na Hungria, explica-se o modelo de desenvolvimento do país. O sector privado, afirma-se, deve ser desenvolvido juntamente com o sector público «sem nunca prejudicar os interesses nacionais do povo bielorrusso», principal objecto do crescimento económico.
Derrubar preconceitos
O que mais surpreende são as pessoas. A sua simpatia é comovente e quase constrangedora. Pedir uma indicação na rua, com recurso à arte tão portuguesa do «desenrasca» – com recurso a gestos ou a desenhos –, termina muitas vezes da mesma maneira: pegarem-nos pelo braço e levarem-nos lá, mesmo se esse «lá» for precisamente no sentido contrário do caminho pelo qual seguiam.
O nível de vida é razoável. As diferenças sociais existem, mas são muito inferiores às verificadas nos países vizinhos. Ou mesmo em Portugal. A exclusão, tão chocante numa cidade como Budapeste – onde o metropolitano serve de tecto a centenas de pessoas excluídas pelo capitalismo triunfante – não é visível e não há gente a pedir. Os bens de consumo, como os automóveis utilitários, os telemóveis de última geração ou o vestuário da moda, são generalizados, sobretudo em Minsk.
Longe de constituírem uma análise sobre a realidade bielorrussa, estas linhas são apenas anotações de viagem. Mas espero que sirvam para derrubar preconceitos acerca de um país que, não querendo entrar para a UE e para a NATO – e talvez por isso – mantém um considerável nível de satisfação das necessidades do povo. Com a Rússia e a Ucrânia mesmo ali ao lado…